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Dois em um

  • Kellen Melo
  • 11 de mai. de 2016
  • 2 min de leitura

Eu sempre fui meio rebelde. Pra que regras? Manter padrões que a sociedade impõe vestir roupas adequadas para ir a um casamento ou salto alto para festas. Gosto de sentir a vibe do proibido e poder voar naquilo que é contra.


Em um dia desses vi um velho rapaz sentado à espera do ônibus 561, ida à Jundiaí, depois das cinco. Suas mãos pareciam suadas, enquanto observava o relógio sem cessar. Eu, ansiosa e atrasada para o trabalho como sempre, nem se quer amarei os cadarços do tênis e ouvia Som Sincero, da banda Schacho, nem aí para o mundo.


- Jovem, sabe que horas vem o próximo?

- Não sei, espero também.


Seus pés agora batiam no chão, aquilo me irritava, mas percebi, ele tinha algo a mais para dizer.


O meio de transporte chegou e rapidamente se locomovia, o senhor mal pôde se acomodar. No balanço quase de ninar do ônibus que corria ninguém se propôs a levantar e dar lugar. Com minha mochila pesada nas costas fitava os passageiros, lugares preferenciais já ocupados. Num dado momento e puxada grotesca de freio, um moço desce e em passos ousados o homem se senta.


Como pode tudo bem eu não me sentar, afinal ainda tenho muita perna para andar, mas o homem, já cansado, acredito que carregou muito saco de cimento nas costas pela vida. Pensando bem, eu também merecia me sentar, trabalhar o dia todo e ir para faculdade depois, é árduo.


Por coincidência ou coisa do destino, estamos juntos novamente, dessa vez aguardamos outro ônibus. Olhemo-nos rapidamente e em rápidos segundos conversamos.


Naquele papo percebi que ele e eu éramos dois. Em uma única situação.

Mas enquanto eu pensava no lugar para sentar, ele fazia o oposto.


-Gente mau educada né senhor, ninguém se importa em ceder lugar...

- A existência é complexa moça.

-Por quê? Como assim? Oi?


Ele olhou adiante como que se observava o nada.


- Por que você trabalha e estuda?

- Preciso me dar bem no futuro, carro e uma grana para um Apê, quem sabe.


O rapaz quase não prestou atenção em minhas palavras e enquanto se levantava, resmungou.


- Você percebe que a nossa grande diferença de idade nos difere? Mas somos os mesmos aqui agora reclamando dos problemas? Pare garota, siga em frente e corra. Caso haja um lugar vago no ônibus que vem logo ali, você ou eu podemos nos sentar. Infelizmente somos reféns do desespero e egoísmo. No entanto, esquecem, todos são feitos de carne e osso, sentados ou em pé, quando a idade chegar vamos para o mesmo lugar.


Engoli seco, acenei com a cabeça, abaixei o volume da música e ingeri aquelas sabias palavras da manhã de terça-feira ao som de buzinas da cidade.



 
 
 

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