Professor acredita em mim
- Kellen Melo
- 18 de mai. de 2016
- 3 min de leitura

Sofhia Lopes, 15, 1°ano do Ensino Médio - no ponto de ônibus
Hoje, a aula foi tão chata, não sei se foi porque só teve matemática e não sou muito fã de exatas ou se foi porque o professor encheu a lousa de conteúdo e eu não consegui acompanhar o raciocínio. Prefiro acreditar que foi devido a minha falta de afinidade com a matéria.
Na boa, eu não estou bem. Sabe aquelas manhãs que você acorda e pensa: eu deveria estar deitada dormindo?
Esta rotina já está me cansando, é sempre a mesma coisa. Levantar as seis, tomar café, esperar o ônibus, entrar na sala ao ouvir o sinal e adiar aquela bapho com as amigas. Nas aulas, mudam os professores, mas é quase sempre igual "atenção turma, abram o livro na página 26 e escreva o que entenderam, valendo nota", de vez em quando aparece alguma novidade, uma aula prática de física ou uma experiência de química, nada demais.
Minhas aulas favoritas são de artes (eu sempre gostei de desenhar e sem querer me gabar eu mando bem) e da aula de educação física (óbvio, porque o professor deixa quem não gosta de futebol/vôlei/handebol ficar sentado jogando xadrez, pra mim que sou de 2001, mas tenho disposição de 90 anos, está ótimo.
Gosto de vim pra escola, pelo menos não tenho que ficar em casa lavando louça, porém eu não gosto de ter que estudar. Não entendo por que tenho que conhecer a tabela periódica ou saber como conjugar os verbos.
Isto me cansa é sempre a mesma coisa. Eu até já sei de cor o que vai acontecer. Meus professores só sabem reclamar que a sala está uma bagunça e não pensam numa solução. Sei bem que o João e o André gostam de jogar bolinhas de papel e a Bruna só sabe colar, mas ficar desse jeito pra sempre não dá né.
Antes eu queria ser professora, agora não quero mais não. Gosto de cantar e dançar, talvez eu seja atriz ou apresentadora de programas esportivos, não sei, mas professora não vou ser, disso eu tenho certeza.
Parece que ninguém acredita mais em nós alunos. Meu professor Rodrigo de filosofia, por exemplo, não deixa a gente dar nossa opinião, a Lúcia, de geografia parece um robô programado para dar trabalhos manuscritos e o Emerson de sociologia, vive dizendo que o salário dele vai vir mesmo se ninguém colaborar com a aula.
Queria que meus professores me ouvissem, tenho tanta ideia legal e aposto que meus amigos também...queria que meus professores acreditassem em mim. Eu sei que sou capaz de muita coisa, mas eu não tenho motivação, alguém que me ajude.
Vish... lá em casa não dá. Meus pais nem me dão bola, já tem mais quatro filhos e aluguel pra pagar. Um professor sim poderia me ajudar. Professor é inteligente e conhece de muitos assuntos, seria tão bom.
Têm dias que fico feliz, não vou mentir. São aqueles dias que depois do intervalo e comer aquela merenda boooa a gente é dispensado mais cedo. Vou pra casa assistir desenho, não vejo jornal, só passa notícia ruim e de ruim já basta me boletim do segundo bimestre.
NOTA:
Resolvi escrever esse texto depois de ouvir um papo de duas professoras discutindo quem tinha aluno pior. "Na sala que dei aula agora ninguém tem sonho"- "Ah na minha nada de objetivo de vida diferente dos nossos filhos", enfim, palavras que me fizeram chorar.
Uma pesquisa feita pela Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro (FGV-RJ), fala sobre o desinteresse do jovem pela escola e mostrou que 40% dos jovens de 15 a 17 anos deixam de estudar porque acreditam que a escola é desinteressante. A necessidade de trabalhar é a segunda causa da evasão, com 27% das respostas, e a dificuldade de acesso à escola aparece com 10,9%.”.
Já pensou se as aulas se tornassem interessantes para esses 40% estudantes?
Diferente de Sofhia, ninguém iria querer chegar em casa logo pra ver TV e a discussão daquelas professoras seria diferente.
Tive/tenho alguns professores que acreditam em mim e isso é o sulficiente para me tornar a pessoa que sou hoje. Para terminar eu digo: Professores acreditem em seus alunos, vocês são tudo que eles mais precisam nesse momento da vida.
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