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Quatro caras

  • Kellen Melo
  • 8 de jan. de 2017
  • 3 min de leitura

Era um dia atípico. Sexta-feira, minha amiga e eu íamos produzir uma matéria para o jornal da faculdade, porém, pouco antes, fui até o INSS com minha avó pagar um boleto. Chegou rápido a vez dela e minutos depois, lá estávamos nós no guichê quatro do primeiro andar do prédio.


Enquanto aguardava em pé ao lado da cadeira, pude observar um homem que me olhava fixamente. Olhei para frente, para a esquerda e quando voltei olhar ele, o indivíduo ainda me fitava. Não era algo comum. Havia fogo naqueles olhos. Seu dono portava boné, regata e tatuagens por todo o corpo, além dos braços cruzados sob o peito e ar de malandro.


Aquilo estava me deixando preocupada e pensativa, pois se saíssemos dali e ele viesse atrás eu não queria nem imaginar o que poderia acontecer. Pensei que as cinco fileiras de cadeiras que nos separavam pudesse me dar tempo suficiente para que eu corresse e chamasse o guarda na portaria, mas seria de pouca valia, já que eu não sei ler mentes e não poderia imaginar o que ele estaria planejando.


Cerca de 12 minutos depois, o processo se encerrou e eu sem comentar nada com minha avó, segurei sua mão e saímos do prédio o mais rápido que eu pude fazer com que ela andasse. Felizmente, acredito que ele ficou por lá, mas até hoje temo vê-lo.


Depois disso, fui para a rodoviário. Encontrei a amiga, então eu estava tranquila. Fizemos o que tínhamos que fazer e Joana me acompanhou no trabalho do jornal.


Logo após tudo terminado cada uma seguiu seu caminho. Tive fome e parei em uma lanchonete. Enquanto escolhia entre pastel ou quibes deixei os cinco reais caírem e fui abordada por um rapaz que colheu o dinheiro do chão. Sutilmente agradeci sorrindo. Já no caixa, ele perguntou se eu queria sentar com ele porque precisava desabafar. Percebi que estava meio embriagado, tentei despistá-lo, ele insistiu e eu demonstrei que não estava gostando daquilo. Dei graças a Deus por ele ter sossegado e encontrado outro alguém para afogar as mágoas. Acredito que um garçom poderia ajudar bem mais do que eu.


Ainda na lanchonete, à espera do pastel de queijo, ali próximo ao balcão de entregas um outro homem vem puxar papo do tipo “o japa tá demorando com seu lanche mocinha”. Eu disse um “sim” simples, queria correr.


Sai rápido daqui, já com fome, fui para a fila do ônibus. Surpreendentemente eu era a primeira, na sequência uma senhora com seu filho que tinha por volta dos seus 27 anos chegam. Ela começa a puxar papo sobre a demora do transporte público. Eu dou atenção, senhora simpática, mas seu filho me olhava de uma forma que eu não gostava. No ônibus sentei em um banco sozinha e eles sentaram logo atrás.


No início do percurso o rapaz pergunta se eu quero o pastel que ele tem dentro da sacola. Eu ignoro digo que não. Ele insiste. Eu repito que não. Isto levou alguns minutos e ele disparar com rancor que não gostava daquilo e que não iria pedir meu número, como que se eu quisesse.


Aquele foi um dos piores momentos do dia. Fiquei com medo de que ele poderia fazer algo contra mim, já que não aceitei o pastel. Estive um pouco arrependida da escolha de ter "brigado" com o cara que eu não conhecia o caráter. Eles desceram do ônibus na metade do caminho. Mas eu ainda temia que ele pudesse me seguir. Apenas fiquei tranquila quando cheguei em casa e segura.


O que aconteceu nesse dia apenas confirmou o que eu temia: mulher não pode ser simpática na rua. Pelo menos se não estiver acompanhada. São raras as vezes que eu saiu sem companhia deve ser por isso que só percebi isso agora.


O simples fato de sair de casa já nos torna vítimas do risco de sofrer assédio sexual (não me levem a mal rapazes do bem). Porque ão é exagero, sei muito bem a diferença entre o cara ser educado ou não.


Uma pesquisa feita pelo Instituto YouGov ouviu mulheres de diversos países, inclusive do Brasil e destacou que 86% das mulheres brasileiras já sofreram assédio em público.Triste realidade para nós que na maioria dessas vezes estamos indo trabalhar, estudar ou cuidar de nossos afazeres pessoais. É um acelerar de coração e arrepio que apenas quem vive sabe do que estou falando.




 
 
 

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